domingo, 29 de março de 2009

Notícia do Bairro

Espaço do Brasil

Brasília sempre foi conhecida como terra de todos os brasileiros. Desde os remotos tempos em que os candangos puderam sentir o poder e a obstinação de JK, esse lugar de barro vermelho desfruta da convivência, e por que não dizer pacífica, de cidadãos e cidadãs que vieram de diversos lugares desse País.

Eu, por exemplo, estou por aqui há recentes dois anos. Raramente não me senti parte dessa comunidade, que recebe bem aos seus nordestinos, sulistas, nortistas... Brasília de todos os santos, parafraseando o poeta. Brasília de todos os estados.

Nessa Brasília de tantos, resolvi morar aqui pela Asa Norte. Acho que é um bairro, nunca soube direito. É uma das “asas” construídas a partir do projeto de Lúcio Costa, o urbanista que encantou a Kubistchek com sua cidade em formato de avião. E aqui na Asa Norte fui apresentada a um estabelecimento comercial que muito me causou curiosidade. De nome “Olhos d’Água” para homenagear o parque ecológico da vizinhança, o local é panificadora, restaurante, mercadinho, lanchonete e tudo mais que precisar...

Mas para os íntimos, o restaurante Olhos d’Água é conhecido mesmo como o “Bar da Glaís”, alcunha obviamente dada em referência à sua proprietária. E é no Bar da Glaís que se encontram diversos piauienses, pernambucanos, cearenses, capixabas, gaúchos, acreanos. Tudo gente da melhor qualidade, tudo tratado como se fosse da família.

Dia de quinta-feira é a festa oficial. É o dia em que a “banda”, formada por afinidade nas mesas de bebedeira, traz seus instrumentos musicais e toca, além de samba, aquele forrozinho pra agitar a vizinhança. Tentam tocar baixo, pra ninguém reclamar. De fato, ninguém reclama da alegria de quem frequenta o restaurante. Glaís Teixeira, 38 anos, goiana, trata cada um que passa pelo seu estabelecimento pelo nome, anota na caderneta o que é consumido durante a noite e no final da semana faz as contas do que ficou “pendurado”.

E calote nem se ouve falar. O pessoal costuma comprar o pão da manhã, almoçar no self-service caseiro e à noite ainda arrisca um caldo. Dependendo da disposição e da música, tomam a cervejinha gelada. Tudo assim, como se fosse sua própria casa.

O publicitário Hugo dos Santos trabalha em Brasília há três anos. Veio de Recife e, no começo, sentiu saudade do clima familiar muito encontrado no Nordeste. Até pensou em voltar para sua terra natal por se sentir muito só, sem amigos. Até que passou a fazer suas refeições no restaurante Olhos d’Água e hoje chega a admitir: se não fosse o Bar da Glaís, já tinha ido embora. “Não me mudo dessa quadra por causa do Bar da Glaís. Aqui estão todos os meus amigos e minha maior alegria é tocar cancã na banda de quinta-feira. A galera dança até cansar”, diz, animado.

E é vizinho a esse espaço tão especial onde eu moro. Vizinho a esse cantinho de todos os brasileiros, que aconchega que vem e se entristece com que vai. É o Bar da Glaís, lugar de comer, beber, dançar, e se lembrar que Brasília, apesar de impessoal, pode ser também a nossa casa.


Fotos: sinalização e vista aérea da Asa Norte (banco de imagens da internet)

Um comentário:

  1. Lea, teu texto está ótimo, mas faltou uma coisa fundamental em matéria de Web: as fotos do bar da Glaís e dos frequentadores que você menciona. Era o caso de você ter levado uma camera para fazer o material. Teu post teria ficado nota 10 mesmo. Mas da proxima vez não te esquece. Texto como o teu, sem fotografia ou video, perde boa parte do encanto.
    Um abraço
    Castilho

    ResponderExcluir